Acordando com outros pássaros
Como Cuiabá, seu nome vem de seu rio. Se o tratado fosse respeitado, nosso rio também teria sido seu e talvez fosse outro o nome que fala da cuia que caiu. Mas o ouro faz descumprir os tratados.
Não houve o ouro do tratado, mas houve os ursos e as árvores. Um urso faminto por árvore se tornou pedra de mais fazer esperar a vez pra dar a companhia na fotografia. E sozinho o urso faminto concorre com tantos cavalos em praças que levam cavaleiros e espadas. Ele que não tem homem nem espada ganha na espera da vez para a fotografia de todos os cavalos. Ele que só tem fome.
E há também os homens pensadamente empedrados perto dos museus. O turismo precisa das pedras. E o grupo guiado pára ali porque tem um Velásquez e mais a frente o restante espera por ela que quis um retrato com Goya.Com suas paletas nas mãos ,parecem interrompidos a toda hora de seus esboços para esse compromisso a que consentiram quando foram feitos pedra e que os impede de terminar a obra que vai assinalar a grande volta. Já não se pode descumprir os tratados.
E nos museus que eles rodeiam, tanta gente na fila à espera de ver Picasso, Miró e Dalí nas últimas duas horas do dia, que são gratuitas. Mas duas horas não dão pra tanto quadro de museu e há que se fazer um plano. Há que se fazer um plano e ignorar impiedosamente todo o artista cujo nome nada faça recordar, toda a obra menor, toda a escola de transição. E como num revisionismo involuntário editar a história da arte espanhola porque o que há são as duas horas.
A presença de pessoas com ternos pretos com as mãos sobrepostas ao corpo ao lado de um quadro auxiliam na empreitada revisionista. A presença delas sempre vigia uma corda que delimita a distância para a vista de um quadro. O plano inclui quadro com cordas.
E diante das cordas, param as pessoas. Se ainda fosse a rainha do país, num mundo quase sem rainhas, haveria um protocolo que dissesse o que fazer, talvez um toque de mão, uma inclinada de cabeça. Mas não há protocolos para o Picasso. E quando o Picasso aparece, com corda e terno preto, as pessoas, olhando para os lados, não sabem se podem tirar uma foto, se devem tirar um foto, se olham a Guernica somente, se olham e se recordam. E quando tiram uma foto, seria sorrindo como quem encontra depois de uma longa espera ou em respeito fazendo um rosto fase azul? E tem ainda uma pequena caminhada que ajuda a saber o rosto da foto.As pessoas têm de sair da sala porque só podem tirar fotos do quadro da sala ao lado. Mesmo após a caminhada, eu não soube.
E num andar com menos cordas e pessoas, há as mostras de arte contemporânea. E havia essa sala de um artista de Nova Iorque cheia de lixo e roupa suja no chão. Mas percorrendo a obra, sou severamente advertida por pisar no lixo. Havia também uma corda que eu não vi.
E as horas gratuitas acabam e anoitece. Quando anoitecia nos meus 10 anos, eu comia churros. E nas padarias, tantos sabores que não existiam no carrinho na frente da minha escola…Mas era noite, me disse a garçonete. Parece que eles não comem churros à noite. Quem sabe o costume mudaria até eu ir embora no outro dia.
E pra dentro da noite sem churros, tantas pessoas saíam com a alegria e a força de quem tinha dormido a sua siesta. Tantos restaurantes de tantos lugares diferentes na mesma rua. E diálogos idiomáticos confundidos ao pedir o nosso jantar. O que pega e torna às vezes mais difícil que a clareza da diferença é essa semelhança cinza. Mas por todo canto, as criancinhas tão pequenas falando em outra língua.
E no fim da noite, a mulher que treinou vinte anos pra dançar o flamenco num grupo que se apresenta há muito tempo junto. Mais o olhar do rapaz do violão que ainda se surpreendia quando ela batia mais forte o sapato com ferro nas pontas no chão de madeira.
O dia acabou e começou outro. E foi bom conhecer Madri e acordar com outros pássaros.
E foi bom conhecer madri e acordar com outros pássaros?
EU SENTI FOI UM TOQUE DE DESDEM…
parecia tão fugaz e tão ordinário a visita… foi como alguem que ja havia se empanturrado de tantos picassos e monets e velasquez e valdívias (valdívia?)… nem parece a garotinha que cresceu numa cidade em que museu é o “Do Porto”, história antiga é a da “Pré Historia de Rondon”, onde o Palácio do Governo se diz patrimônio (mas nada de interessante alí está), e, onde o aquário, por incrível que pareça, reside no mesmo porto do antigo museu… Onde se vai à Casa do Artesão para pouco ver a arte ribeirinha, quiçá artesanal. Em que sarais literários ocorrem somente nas universidades, e, se a roda-viva rodasse, todos estariamos felizes um dia, culturalmente falando, claro… E O SEBO QUE MAIS VENDE LIVROS NOVOS DO QUE USADOS?